A trama espontânea de afinidades eletivas da blogosfera
palavras que lutam
palavras que lutam
são mais que palavras
palavras que lutam
são corpos
sãos
pontes sobre
vãos
palavras que lutam
aqui
agora
presentes
fazem da hora
hora de ação
palavras que lutam
negam o luto
são
grito
e
oração
que sigam sempre
ativas
altivas
vivas
em nós
as palavras
que lutam
por nós
+
Presente surpresa de fim de ano: a poetamiga Eleonora Marino Duarte me honrou com uma citação no seu blog Versos & Ideias. Como a admiração é mútua e gentileza gera gentileza, posto aqui no Conexões, em agradecimento, um poema que dediquei aos seus poemas logo que me tornei seu leitor, lá pelos idos de 2009...
Acompanha uma gravura de Marc Chagall. Boa escolha, não é Eleonora?
.
balsa-palavra
leve flutua no ar, poeta... mas
ante ao mar não recua:
ensaia, mede a distância
até que profundo de si
mergulha - e, em meio ao lodo,
pérolas, tesouros ocultos
o brilho dos olhos revelam...
onde luzem desejos submersos
nascem os versos do poema
Raul Motta
2009-12
Marc CHAGALL; "Alors je suis sorti de la mer et s'assit sur le bord d'une île au clair de lune ...". Planche 5 de Quatre Contes des Mille et Une Nuits; lithographie en couleurs sur papier vergé, 1948.
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Presente surpresa de fim de ano: a poetamiga Eleonora Marino Duarte me honrou com uma citação no seu blog Versos & Ideias. Como a admiração é mútua e gentileza gera gentileza, posto aqui no Conexões, em agradecimento, um poema que dediquei aos seus poemas logo que me tornei seu leitor, lá pelos idos de 2009...
Acompanha uma gravura de Marc Chagall. Boa escolha, não é Eleonora?
.
balsa-palavra
leve flutua no ar, poeta... mas
ante ao mar não recua:
ensaia, mede a distância
até que profundo de si
mergulha - e, em meio ao lodo,
pérolas, tesouros ocultos
o brilho dos olhos revelam...
onde luzem desejos submersos
nascem os versos do poema
Raul Motta
2009-12
Marc CHAGALL; "Alors je suis sorti de la mer et s'assit sur le bord d'une île au clair de lune ...". Planche 5 de Quatre Contes des Mille et Une Nuits; lithographie en couleurs sur papier vergé, 1948.
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"palavras que lutam" replicado pela poetamiga Sandra Camurça no blog "o refúgio":
palavras que lutam
palavras que lutam
são mais que palavras
palavras que lutam
são corpos
sãos
pontes sobre
vãos
palavras que lutam
aqui
agora
presentes
fazem da hora
hora de ação
palavras que lutam
negam o luto
são
grito
e
oração
que sigam sempre
ativas
altivas
vivas
em nós
as palavras
que lutam
por nós
Grato, Sandra!
Ser publicado no teu blog é, com certeza, a única maneira feliz de ser um "refugiado"!
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Poema "noves fora", originalmente publicado aqui no há palavra e republicado no blog Cronísias.
Pela iniciativa e divulgação, meus agradecimentos ao poeta Fred Caju, que publica o hebdomadário virtual Sábados de Caju
Valeu e muito, Fred! Grande abraço e bons caminhos...
Poema "noves fora", originalmente publicado aqui no há palavra e republicado no blog Cronísias.
Pela iniciativa e divulgação, meus agradecimentos ao poeta Fred Caju, que publica o hebdomadário virtual Sábados de Caju
:
noves fora
o poema nada sabe sobre
não paira acima
não olha de fora
não tem umbigo
o poema nunca nasceu
não tem ego
id
superego
nunca teve nada a ver com isso
ou aquilo
o poema não reza -
ora -
e toda hora é agora
o poema não se debruça à janela
não para pra ver passar a banda
o poema é a banda em silêncio
o publico atônito atento em silêncio ao silêncio da banda
o poema não presta e confessa:
amei a poesia
dormi com o poeta
mas isso foi um dia depois
matei a poesia
escarrei no poeta
o poema sempre foi sem eira nem beira
o poema assume que sonha acordado
que fala sozinho
que é louco varrido
barroco e concreto
o poema não cerca o Lourenço
não leva desaforo pra casa
não foge da luta
sin perder la ternura
o poema é uma pedra no caminho do poeta
o chumbo das asas
o salto
o assalto ao trem pagador
o poema é a pipa
o azul
a linha
o cerol
o cerol na linha
a linha na linha no azul
o corte a perda
o poema é o luto
a lápide
a vida eterna
de corpo presente
o poema não serve pra nada mas -
desde sempre - foi sempre um poema
a preencher de vida
a morte da vida
na gente
não paira acima
não olha de fora
não tem umbigo
o poema nunca nasceu
não tem ego
id
superego
nunca teve nada a ver com isso
ou aquilo
o poema não reza -
ora -
e toda hora é agora
o poema não se debruça à janela
não para pra ver passar a banda
o poema é a banda em silêncio
o publico atônito atento em silêncio ao silêncio da banda
o poema não presta e confessa:
amei a poesia
dormi com o poeta
mas isso foi um dia depois
matei a poesia
escarrei no poeta
o poema sempre foi sem eira nem beira
o poema assume que sonha acordado
que fala sozinho
que é louco varrido
barroco e concreto
o poema não cerca o Lourenço
não leva desaforo pra casa
não foge da luta
sin perder la ternura
o poema é uma pedra no caminho do poeta
o chumbo das asas
o salto
o assalto ao trem pagador
o poema é a pipa
o azul
a linha
o cerol
o cerol na linha
a linha na linha no azul
o corte a perda
o poema é o luto
a lápide
a vida eterna
de corpo presente
o poema não serve pra nada mas -
desde sempre - foi sempre um poema
a preencher de vida
a morte da vida
na gente
.
Valeu e muito, Fred! Grande abraço e bons caminhos...
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Entrevista concedida ao poeta Cristiano Marcell, responsável pela coluna "Haicais de Domingo", abrigada no blog "Poetas de Marte":
Haicai fazendo arte
Os físicos explicam a relatividade do tempo. Para alguns uma semana parecem séculos, contudo, para mim, do domingo passado até hoje foi como um breve cochilo. Certa vez li um haicai de meu enciclopédico amigo Jair Lopes colocando bem esse fato e de maneira muito didática:
Tudo é demora
Quando não tivermos pressa
Não será agora
(Jair Lopes)
Na coluna desta semana saberemos um pouco sobre a produção de Raul Motta que, dentre tantas habilidades também é exímio haicaísta, muito antenado, versando sobre temas diversos.
Leitor inveterado e apreciador de boa música acreditando, tal como João Gilberto que “Música é tudo aquilo que consegue ser melhor que o silêncio”, atua como professor no Município de Duque de Caxias.
Terra redonda
ainda que parados
eterna ronda
(Raul Motta)
a vida sopra,
suave, um segredo:
brisa que passa
(Raul Motta)
Suas primeiras lembranças da escola o remetem ao Colégio Aplicação da Universidade de Brasília, onde passou sua infância. Hoje, licenciado em Educação Artística pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro,além de artista gráfico e também poeta eventual, como próprio se intitula, é mestre em História Social da Cultura na Pontífice Universidade Católica do Rio.
Raul Motta, que escreve regularmente, nos agraciando com mensagens de altos teores de inteligência e sensibilidade, no blog “Há palavra”(http://hapalavra.blogspot.com), apesar de portador de imensa modéstia, diga-se de passagem, uma característica peculiar àqueles que possuem um talento inato, brinca facilmente com as palavras.
co[m]um
silêncio consentido
silêncio
com sentido
(Raul Motta)
Ele gentilmente conversou comigo e nos deixou a par de como a dinamicidade das palavras passou a fazer parte do seu cotidiano elaborando haicais ou de que modo passou a enxergar que :a palavra precisa do outro, a palavra se precisa no outro.
Haicais de Domingo: Fale-nos um pouco de sua formação e o que o inspira,impulsionando-o a escrever?
Raul Motta: Não me considero um escritor, apesar do meu interesse precoce pela palavra ter levado uma irmã a me alfabetizar antes mesmo que eu ingressasse na escola. Esta mesma irmã foi a pessoa responsável por abrir meus horizontes relativamente à leitura, pois ainda criança passei a “freqüentar” sua biblioteca - algumas vezes clandestinamente, por conta dos livros inadequados à minha faixa etária. Foi assim que construí minhas primeiras referências em literatura de qualidade, que me acompanham até hoje. A propósito, cito uma frase do poeta Mário Quintana: “Eu não acredito em influências, acredito em confluências.” Desde sempre minhas preferências se direcionaram mais para a poesia do que para a prosa e, entre os gêneros de prosa, mais para o conto e a novela, mais concisos do que para o romance – daí minha predileção por autores como Manuel Bandeira (meu predileto), Mário Quintana, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Franz Kafka, Ezra Pound, J.D. Salinger, Jack London, Machado de Assis, entre outros. Se pudesse resumir em uma frase o que acredito ser a literatura de qualidade, citaria Roman Jakobson: “A literatura é a violência organizada contra a fala comum”. Mas, na verdade, não tenho a pretensão sequer de me aproximar deste ideal, me considero mais um leitor que também escreve e, apesar de escrever desde a adolescência, só passei a produzir com alguma regularidade após a criação do blog.
Autorretrato
nada que faço
me completa: invento
a mim - poeta.
(Raul Motta para Mário Quintana)
Haicais de Domingo: Desde dois mil e oito você nos contempla na internet com sua poesia de muito bom alvitre e demasiada inteligência. Uma de suas facetas é a composição de belos haicais, dos quais já tive o prazer de lê-los. O que o fez se interessar por esse tipo de poema? Qual(is) autor(es) o fez arriscar algumas palavras encaixadas nesses poemetos?
Raul Motta: Descobri os haicais ainda na adolescência, juntamente com outras manifestações artísticas da cultura oriental e japonesa em particular, a partir do meu interesse por meditação zen budista e pela filosofia taoísta. No início, estava voltado mais intensamente para as artes plásticas, por conta do meu interesse em História da Arte. Além disso, até então haviam poucas traduções de haicais em português mas, no decorrer da década de 1980, as editoras Masao Ono e Roswitha Kempf publicaram coletâneas de haicaístas clássicos japoneses (“O Livro dos Hai Kais”, com poemas de Bashô, Buson e Issa) e obras de Bashô (“Sendas de Ôku”), em traduções da poeta Olga Savary, ela mesma uma haicaísta. Estes livros e mais a concisa e poderosa biografia de Bashô pelo poeta Paulo Leminski (”Bashô – A Lágrima do Peixe”) foram os responsáveis pela minha “conversão” aos haicais.
múltipla escolha
vida? - ou arte?
se a arte escolho -
vida - faz parte.
(Raul Motta para Emily Dickinson)
Haicais de Domingo: E você se utiliza de seu blog na divulgação de seus escritos incentivando seus alunos ou acredita que isso possa vir a acontecer?
Raul Motta: Não utilizo o conteúdo do meu blog em sala de aula por conta da faixa etária dos meus alunos, pré-adolescentes ou no início da adolescência. Mas já trabalhei com haicais em sala de aula, até porque eles me permitem unir a expressão plástica à escrita na forma de haigas, modalidade de haicai acompanhado por ilustração do próprio autor. Nestas ocasiões costumo me valer das ótimas indicações aos professores para o trabalho com haicais direcionado a crianças e jovens disponíveis no site da Caqui – Revista Brasileira de Haicai, além da valiosa colaboração da poeta e amiga Clarice Villac, autora de haicais que têm como temática aspectos da cultura popular brasileira. O mais interessante de trabalhar a produção de haicais com as crianças é estimular a percepção do mundo e de si simultaneamente – ou seja, a expressão do “aqui e agora” – porém de modo livre, mantendo apenas a estrutura básica dos três versos sem a obrigatoriedade de obedecer à métrica clássica.
a alma - lama -
nas águas de janeiro
me lavo – leve
(Raul Motta)
Eu recomendo aos marcianos que aqui foram abduzidos que acompanhem o blog Há palavra. Certamente constatarão, através de uma possível ufologia poética, que existe vida inteligente além de Marte ■
Cristiano Marcell é professor nas horas vagas e escreve nos blogs:
http://esquifedememorias.blogspot.com e http://haicaienaomachuca.blogspot.com
.
http://poetasdemarte.blogspot.com/2012/01/haicai-fazendo-arte_29.html
+
temp[l]o dentro
no tempo
do templo
contemplo
Agradecimentos mais que especiais à Clarice Villac, poetamiga e sensível antena das boas causas, que levou meu temp[l]o dentro para o belo blog Cantinho Literário SOS Rios do Brasil
temp[l]o dentro aqui e lá
+ Clarice Villac no blog Ponto de Luz
+
Tahrir
a praça é o ponto
o centro
de tudo
a praça é o tempo
que corre
o alento
a praça é o eixo
incerto
do novo
a praça é o fluxo
que corre
à margem
a praça é o ventre
o abrigo
alimento
a praça é o vômito
do mundo
profundo
a praça é o sonho
a soma
que somos
a praça é o vértice
a ponta
da lança
a praça é o vórtice
a festa
a dança
a praça é o fogo
o furor
que consome
a praça é o todo
é toda
do povo
o centro
de tudo
a praça é o tempo
que corre
o alento
a praça é o eixo
incerto
do novo
a praça é o fluxo
que corre
à margem
a praça é o ventre
o abrigo
alimento
a praça é o vômito
do mundo
profundo
a praça é o sonho
a soma
que somos
a praça é o vértice
a ponta
da lança
a praça é o vórtice
a festa
a dança
a praça é o fogo
o furor
que consome
a praça é o todo
é toda
do povo
[R.M.]
.
Conectado por Poetas Vivos
"Tahrir" lá
ludens
o
poema
é
o pio
do
ovo
[r.m.]
.
Conectado por Mariana Campos
"ludens" no blog búho branca
"ludens" aqui
+
Estórias de Luz
“A grande dor do homem, que começa na infância e prossegue até a morte,
é que olhar e comer são duas operações diferentes.”
[Simone Weil]
[Simone Weil]
Quando menino, levado por pai e mãe, freqüentava a igreja. Da atmosfera, toda a minha atenção. Do rito, quase nada, mas, deste quase, uma só frase me dizia: “Ele está no meio de nós”. A frase era senha de despedida, logo toda a gente se retirava, eu me lembro do silêncio que nos acompanhava até a saída, um silêncio que eu não sei até hoje se era de fora, se de dentro. Só sei que dentro de mim eu levava a frase, que comigo ficava, só ouvidos, mas inquieta, sentida sem sentido, o som desencarnado ainda.
Da frase, que guardo até hoje, me recordei ao deitar os olhos na beleza toda de livro que é o “Estórias de Luz”, de Marcelo Oliveira. O nome é justo e honesto e cumpre o que promete. Pois o fotógrafo grava em luz o que os olhos vêem e o coração sente. Paisagens, coisas e gente, gente, coisas e paisagens são presenças emprenhadas de substância. Marcelo ilumina estórias em que tudo se narra por um olhar que traduz contato em encontro, pois é olhar permeado pelo afeto e decantado pelo tempo: tempo real e subjetivo de vivência e convivência do fotógrafo e do ser humano com as paisagens, as coisas e as gentes do Vale do Jequitinhonha, nas Minas Gerais.
O olhar ligeiro não considera, não guarda, não apreende de cor, não se põe “entre”. Daí a beleza própria às imagens que não foram simplesmente [re]colhidas, mas pacientemente plantadas e [a]colhidas. Elas nascem de um “estar entre”, que só a fotografia pode proporcionar, pois o olho do fotógrafo é corpo desencarnado que, para ser preciso, precisa encarnar no que vê.
Para esse olho que simultaneamente olha de fora e vê de dentro “a vida não é só isso que se vê / é um pouco mais...”. Incorporar este “a mais” à imagem é desafio ético e poético: o vão que separa o olho do mundo não pode, nem deve, ser transposto: sua profundidade exige respeito e suas profundezas, consideração. Na plenitude e abertura à este vazio, o olho que fotografa deve conscientemente se instalar. Habitando este “não lugar”, tudo que separa torna-se caminho. E o caminho, assim como o vazio, está no meio de nós.
Da frase, que guardo até hoje, me recordei ao deitar os olhos na beleza toda de livro que é o “Estórias de Luz”, de Marcelo Oliveira. O nome é justo e honesto e cumpre o que promete. Pois o fotógrafo grava em luz o que os olhos vêem e o coração sente. Paisagens, coisas e gente, gente, coisas e paisagens são presenças emprenhadas de substância. Marcelo ilumina estórias em que tudo se narra por um olhar que traduz contato em encontro, pois é olhar permeado pelo afeto e decantado pelo tempo: tempo real e subjetivo de vivência e convivência do fotógrafo e do ser humano com as paisagens, as coisas e as gentes do Vale do Jequitinhonha, nas Minas Gerais.
O olhar ligeiro não considera, não guarda, não apreende de cor, não se põe “entre”. Daí a beleza própria às imagens que não foram simplesmente [re]colhidas, mas pacientemente plantadas e [a]colhidas. Elas nascem de um “estar entre”, que só a fotografia pode proporcionar, pois o olho do fotógrafo é corpo desencarnado que, para ser preciso, precisa encarnar no que vê.
Para esse olho que simultaneamente olha de fora e vê de dentro “a vida não é só isso que se vê / é um pouco mais...”. Incorporar este “a mais” à imagem é desafio ético e poético: o vão que separa o olho do mundo não pode, nem deve, ser transposto: sua profundidade exige respeito e suas profundezas, consideração. Na plenitude e abertura à este vazio, o olho que fotografa deve conscientemente se instalar. Habitando este “não lugar”, tudo que separa torna-se caminho. E o caminho, assim como o vazio, está no meio de nós.
[R.M.]
Conectado por Déa Trancoso, cantora, poeta e pesquisadora da cultura popular mineira e brasileira e pode ser acessado no link:
“Estórias de Luz” terá, em breve, uma segunda edição. Uma versão revista deste texto, postada aqui no há palavra com o título “À luz do olhar”, será um dos textos de apresentação do livro.