domingo, 30 de janeiro de 2011

A Árvore Inútil de Chuang Tzu




Hui Tzu disse a Chuang:
Tenho uma grande árvore,
Que se chama "mal cheirosa".
Seu tronco tão torto
É tão cheio de nós
Que ninguém pode dele tirar uma só tábua.
Os galhos são tão retorcidos
Que você não consegue cortá-los
De modo a que sejam úteis.

Lá está ela à beira da estrada.
Carpinteiro nenhum a olhará.
Eis o seu ensinamento -
Grande e inútil.

Respondeu-lhe Chuang Tzu:
Já viu o gato do mato
Agachado, espreitando sua presa, -
Pula assim, e assim,
Para cima e para baixo, e por fim
Cai na armadilha.

Mas o iaque, já viu?
Poderoso qual trovão
Mantém-se com sua força.
Grande? Claro que sim,
Mas não sabe pegar ratos!

Assim, a sua árvore inútil. Inútil?
Plante-a então no terreno baldio
Sozinha
E caminhe a esmo, em torno dela,
Descanse à sua sombra;
Nenhum machado ou decreto proclamará o seu fim.
Ninguém jamais a abaterá.
Inútil? Que me importa!


.


Tradução: Thomas Merton

+

"O período clássico da filosofia chinesa compreende cerca de 300 anos, de 550 a 250 aC. Chuang Tzu, considerado o maior escritor taoísta de cuja existência histórica se tem notícia [...], floresceu no final deste período."

Trecho de "Um estudo sobre Chuang Tzu" e poema extraídos de:
MERTON, Thomas. "A Via de Chuang Tzu"; Petrópolis: Vozes, 1984

4 comentários:

Eleonora Marino Duarte disse...

magnífica postagem, raulamigo!

há palavra disse...

Betinamiga,
Merton + Chuang Tzu é fina flor! A gente só tem é que "guardar"...
Abraços, bons caminhos!

Marcantonio disse...

Pondo um pouquinho à parte o Tao, bem que essa árvore inútil também serve para figurar a arte. Ou talvez nem precise por à parte, não?

Grande abraço.

há palavra disse...

Marcantonio:

Como sempre, certeiro você: já trabalhei algumas vezes este texto com os alunos justamente para levantar a questão da [in]utilidade da arte - e quase sempre a discussão é muito rica!

Grato pela presença, bons caminhos no bem e dos bons!