segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

satori

na lama o lótus
sábio soube por si só:
somos nós os nós













R.M.
+
Kazuaki Tanahashi ; "Brush line"

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Tahrir



a praça é o ponto
o centro
de tudo

a praça é o tempo
que corre
o alento

a praça é o eixo
incerto
do novo

a praça é o fluxo
que corre
à margem

a praça é o ventre
o abrigo
alimento

a praça é o vômito
do mundo
profundo

a praça é o sonho
a soma
que somos

a praça é o vértice
a ponta
da lança

a praça é o vórtice
a festa
a dança

a praça é o fogo
o furor
que consome

a praça é o todo
é toda
do povo




[R.M.]

+

imagem aérea da Praça Tahrir, Cairo, Egito; Associated Press

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Hui Neng






"Não há árvore Bodhi,
nem o cessar do brilho no espelho.
Sendo tudo vazio, onde
poderia assentar o pó?"





Tradução de Elza Bebiano do gâthâ de Hui Neng [638-713], Sexto Patriarca da linhagem chinesa do zen.
In: SUZUKI, Daisetz Teitaro [1870-1966]. "A Doutrina Zen da Não-mente"; São Paulo: Editora Pensamento, 1993.

+
imagem
Hui Neng tearing sutras

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

kyudo

certa
a palavra é
a palavra que
no poema
é alvo
e seta -
sendo arco
o poeta









[R.M.]
+
"enso" ["círculo"]; caligrafia japonesa, autor desconhecido


et circenses

o pão nosso de cada dia
com manteiga
nos dai hoje






[R.M.]

+
Marcel Duchamp; "Air de Paris", ready-made, 1919 [1964 version]. Glass and wood, 14.5 x 8.5 x 8.5 cm.

.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

poucas e boas





I

verborragia
verbo
azia




II

[de mais
a
mais
mesmo
o
menos
ainda
pode ser
demais
]





[R.M.]
[a partir de um comentário feito pela Mariana www.buhobranca.blogspot.com]
+
Mira Schendel; monotipia s/papel de arroz; 47 x 24 cm. [1964]

à Hans Arp




o acaso me trouxe até aqui
digo:
presente! aqui estou!
eu que nada sabia sobre o mundo até abrir o primeiro sorriso
desde então este mundo e eu nos queremos
como dois amantes que já se tornaram velhos conhecidos
seguindo de mãos dadas
o desejo ainda intenso de vida pela frente
tanto ainda por fazer!
quem vive pelos sentidos percebe o sentido do que vive em todas [as coisas
as mãos sempre prontas à ação
hábeis ou inábeis, não importa!
a arte não é nada?
minha resposta é o fazer e o refazer
o trabalho é minha música
seja audível ou inaudível
todo som tem sua frequência
e cedo ou tarde por alguém é captado
no ar fresco que sopra lá fora tudo existe e se completa
em tudo que respiro
sinto a presença:
arte-nada
a regra que me rege
meu não
um grande sim
ao mundo que é o mundo









[R.M.]

+

Hans Arp [1886-1966] em fotografia de 1922
"Duas cabeças" [1927]; óleo e barbante s/ tela; 35 x 27 cm