o poema
segue o trajeto viaja
faz o caminho direto indireto
balança na curva não perde a linha a ternura jamais
corpo estranho imóvel entre mortais apressados
guarda a palavra
aguarda em ávido altivo silêncio
anseia
inespera
o momento ínfimo
o sublime fugaz exato
o instante passageiro
do encontro
de um improvável leitor qualquer consigo mesmo
.
[R.M.]
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O projeto Leitura em Trânsito é uma iniciativa do CEAT - Centro Educacional Anísio Teixeira:
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http://www.ceat.org.br/janelas_index/leituraemtransito.htm
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http://www.ceat.org.br/janelas_index/leituraemtransito.htm
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16 comentários:
O poema, às vezes trancafiado em nossas gavetas... tão bom quando ele faz trajetos inusitados, mesmo que para poucos leitores. Parece que nascem novos poemas quando interagem!
um belo poema
abça
Betha
Olá, Betha:
É isso, as palavras - e seus leitores! - em seus diversificados e criativos trajetos...
Grato pela presença e comentário!
Gular é mágico, perdi a conta de quantas vezes lí "Poema Sujo", Gular para mim será sempre fonte de inspiração!
Na fabricação de im poema, viaja ele e viajamos nós, são caminhos, balanços, obstáculos e paisagens sem fim.
O nosso encontro ou desencontro com ele é o que mais encanta quem nos lê.
Gostei muito do teu blog, passo a segui-lo...
Abraços
Janaína,
grato pela chegada, leitura e presença aqui nos comentários!
Gullar é mesmo um dos grandes, sua trajetória múltipla de homem-poeta de palavra-ação fala por si - e poder desfrutar de seus poemas como "companheiros de viagem" é um luxo...
Abraços e bons caminhos pra ti!
.
Que iniciativa bem-vinda esta do C.E. Anísio Teixeira !
Com certeza o benefício será imenso, humanizando e sensibilizando as pessoas nos trajetos cotidianos.
Nem todas ?
Pode ser, mas possibilidades, caminhos, precisam existir, para que se iniciem novos caminhares...
Parabéns por seu poema, Raul !
:~)
Grato, Clariceamiga!
É verdade, muito legal a iniciativa!
Eu que ando me sacudindo de ônibus pra cima e pra baixo gostaria de encontar com um poeta desses em cada viagem...
Pela minha experiência, percebi poucas pessoas lendo os poemas, mas eles estão ali, presentes - ao menos como "objetos" - e, por si só, isso já cria um "fato poético", não é mesmo?
Abraços pra ti, bons caminhos!
Salve poeta passando para deixar-lhe um abraço e desejar que seja fantástico teu final de semana.
Grato, Janaína!
O sol lá fora confirma teu vaticínio, o dia está aberto em luz!
Abraços e bom domingo pra ti!
navegou o poema
nos trajectos de mares
de hemisférios opostos
e
descansou
na folha do meu laptop
:)
bj
ana
Ana,
teu comentário é mais um poema!
Se existe na vida um porto seguro, certamente ele nasce desse diálogo que envolve palavras e vai além.
Abraços pra ti, bons caminhos!
raulamigo,
mandei e-mail para marcarmos o nosso café puro!
:)
Betinamiga,
acabo de responder ao teu email - e vamos ao nosso café só café!
Abraços sem açúcar e com afeto...
Adorei! É um poema vivo, como o sangue na veia.
Claudia,
grato pela presença e comentário generoso!
Se essas qualidades que você aponta transparecem no poema é porque fui tocado por esse encontro inesperado... Afinal, não é qualquer dia que a gente encontra com o Gullar num ônibus, né? rs...
Abraços pra ti!
que lindo este, Raul, amigo. Lindo mesmo!
Deixarei um do Gullar:
Fica o dito pelo não dito
o poema
antes de escrito
não é em mim
mais que um aflito
silêncio
ante a página em branco
ou melhor
um rumor
branco
ou um grito
que estanco
já que
o poeta
que grita
erra
e como se sabe
bom poeta(ou cabrito)
não berra
o poema
antes de escrito
antes de ser
é a possibilidade
do que não foi dito
do que está
por dizer
e que
por não ter sido dito
não tem ser
não é
senão
possibilidade de dizer
mas
dizer o quê?
dizer
olor de fruta
cheiro de jasmim?
mas
como dizê-lo
embora o diga de algum modo
pois não calo
por isso que
embora sem dizê-lo
falo:
falo do cheiro
da fruta
do cheiro
do cabelo
do andar
do galo
no quintal
e os digo
sem dizê-los
bem ou mal
se a fruta
não cheira
no poema
nem do galo
nele
o cantar se ouve
pode o leitor
ouvir
( e ouve)
outro galo cantar
noutro quintal
que houve.
(e que
se eu não dissesse
não ouviria
já que o poeta diz
o que o leitor
– se delirasse -
diria)
mas é que
antes de dizê-lo
não se sabe
uma vez que o que é dito
não existia
e o que diz
pode ser que não diria
e
se dito já não fosse
jamais se saberia
por isso
é correto dizer
que o poeta
não revela
o oculto:
inventa
cria
o que é dito
( o poema
que por um triz
não nasceria)
mas
porque o que ele disse
não existia
antes de dizê-lo
não o sabia
então ele disse
o que disse
sem saber o que dizia?
então ele sabia sem sabê-lo?
então só soube ao dizê-lo?
ou porque se já o soubesse
não o diria?
é que só o que não se sabe é poesia
assim
o poeta inventa
o que dizer
e que só
ao dizê-lo
vai saber
o que
precisava dizer
ou poderia
pelo que o acaso dite
e a vida
provisoriamente
permite.
Ferreira Gullar, Em alguma parte alguma
Marcio,
maravilha de poema!
Gullar no mais que perfeito uso da língua pensa - e faz pensar - com as palavras; e, com pleno domínio da linguagem, pensapalavra... Poesia e pensamento: onde começa um[a] e termina o/a outro[a]?
Grato pela presença, bons caminhos...
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