quarta-feira, 29 de abril de 2009

Anamnemosine

Procurava lembrar. Como o que sobrevinha não lhe satisfazia, terminava sempre por regredir ao atual incômodo, ao horizontal desconforto. Buscava, na verdade, uma forma qualquer de utilidade. Não que o ambicionasse mas, gostaria, sim, de entender o quê. Algo havia lhe tornado, era evidente. Disso, com certeza, teria certeza se pudesse lembrar. Lembrava, isso sim, do muito que já lhe haviam dito, mas todas aquelas palavras agora já não eram mais aquelas, eram essas, e haviam se tornado tão estáveis quanto animais empalhados acomodados em prateleiras. Isso, essa sensação, era do tipo que possuía justamente o efeito de fazê-lo desacreditar inutilmente de tudo, em toda essa fiada de fatos críveis, tecidos por palavras mornas embaladas em melodias de ninar. Ora, não era mais criança. Não era mais, não era. Uma utilidade para tudo isso, pensava que pudesse. Gostaria, sim, de entender; mas permanecia, entretanto. Poderia seguir. Imaginar um talvez.
[R.M.]

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