O CCBB - Centro Cultural do Banco do Brasil aqui do Rio inaugurou recentemente a exposição Virada Russa, apresentando 123 obras que recriam o clima artístico da Rússia pré-revolucionária, os primeiros anos da utopia soviética e o “retorno à ordem” stalinista.
Aproveito a oportunidade para publicar aqui um poema que escrevi em 2007 para Varvara Stepanova [1894-1958], artista plástica, cenógrafa, figurinista e designer que viveu intensamente o período. Stepanova redigiu, com seu companheiro Aleksandr Rodtchenko, o Programa do primeiro grupo de trabalho dos construtivistas e, juntamente com os demais artistas ligados ao grupo, encarnou os ideais da vanguarda artística revolucionária que compreendia sua atividade criadora como uma intervenção concreta na sociedade, e o “objeto artístico” um modelo a ser compreendido e não “obra de arte” a ser contemplada.
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Sobre o construtivismo:
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Stepanova fotografada no ateliê por A. Rodtchenko + com Rodtchenko em foto de 1920 + reunião do grupo construtivista + c enário e figurinos para o espetáculo teatral "The Death of Tarelkin", de V. E. Meyerhold; 1922 + trabalhando em uma estampa para tecido, em foto de Rodtchenko, 1924.
elegia construtiva para varvara stepanova
cabeça
compasso
mão
pensamento
ferramenta
ação
desenhodesígnio
mundo
homem
construção
tudo ligado
ao todo
arte
arte
arte
em toda parte
até deixar de ser
[p]arte
6 comentários:
excelente raul!
o verso é uma síntese do trabalho da genial varvara! o final (que significado grande você deu ao final!) está perfeito, encaixa-se no conceito do construtivismo e na obra da própria stepanova. muito sensível sua homenagem...
estive na virada russa e fiquei sem fôlego. duas coisas especiais aconteceram: vi Kandinsky e Marc chagall (que tanto ilustra meu blog!)de perto e para mim foi um momento de verdadeira emoção, uma oportunidade encantada!
está muito bom o teu blog!
grande abraço!
cabeça - pensamento
compasso - ferramenta*
mão - ação
* Eu teria utilizado "instrumento".
As rimas me perseguem! (risos)
Gostei muito dos versos!
Beijo, Raul.
Betina,
O poema nasceu do impacto que me proporcionou a foto de Stepanova manejando o compasso, totalmente concentrada no trabalho. É uma imagem icônica tanto do “artista-engenheiro” construtivista quanto de um [novo] feminino que se anunciou durante aqueles anos imediatamente após a revolução soviética.
Sim, é um prazer ver, ao vivo, quadros dos quais temos informações apenas por reproduções. E, além do prazer, estar na presença de uma pintura é fundamental para nos lembrarmos que ela é um fato “físico”, não só pela corporeidade do quadro/tela, mas pela enorme quantidade de informações e/ou maior ou menor gama de sensações “táteis” captadas pelo olho em passeio pela sua superfície.
Este do Chagall – que está na exposição e que você “capturou” em seu blog - , por exemplo, não o imaginava naquela escala! Havia visto uma outra exposição de trabalhos do Chagall [há anos, anos-luz!], acho que no MHN ou Paço - eram trabalhos bem menores, mas muito mais exuberantes em cor... azuis e vermelhos intensos, lindos mesmo...
Acho que ainda conversaremos muito sobre pintura...
Abraços, bons caminhos...
Renata,
boa ponderação: quanto ao ritmo, rimar seria opção [ôpa, rimou! rs...]
Agora, falando sério: que eu me lembre [o poema é de 2007], a opção pela palavra “ferramenta” não foi assim tão consciente, mas poderia justificá-la, hojagora, pela maior ressonância que ela manifesta relativamente ao universo do trabalho e do proletário, que os construtivistas buscavam não só atingir como incorporar à atividade artística. Creio que “instrumento”, quanto a este critério de classe social, seria uma palavra mais “neutra”...
Como disse, penso [no sentido de “raciocino logicamente”] nisso tudo só agora! Quando escrevemos, acho que somos dirigidos principalmente por outro tipo de pensamento, outra[s] lógica[s]... De todo modo, o bonito é que tua observação, por ter me apresentado uma outra lógica, me fez pensar e repensar de um modo que não havia feito antes! Agradecido pela leitura, sempre atenta!
Abraços, bons caminhos pra ti...
Raul amigo, vocÇe faz com as palavras uma verdadeira "construção" s "tijolo com tijolo num desenho mágico..." rs
Por isso digo que sou sua discípula! rs
Que beleza de post, Raul. Estes dois fizeram história. Um período da história pelo qual sou mesmo fascinada: O mundo e o homem em construção... E que belo poema. Perfeito.
Estarei por aqui, com certeza.
Abraços, Nydia
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