quinta-feira, 14 de outubro de 2010

de vir




I

som e fúria
apenas
almas pequenas
ideias simples
às massas de todas as classes

deus
pátria
família
inclusão
nosso nome em vão
amém

palavras de ordem
unidas
sujeitos ocultos
devotos em fila
sorrisos supérfluos
em cartaz



II

o mar à vista
advirá
um dia

se a vida flui veloz
por si
só o tempo não opera

o rio e suas margens
somos nós




.



[R.M.]

+ imagem
Joseph Beuys [1921-1986]; 7.000 carvalhos, escultura social apresentada na Documenta de Kassel, 1979 [foto: Guenter Beer]

Poema dedicado à Étienne de La Boétie [1530-1563]

14 comentários:

ANGELICA LINS disse...

Cultivemos nossas mudas, que embora miúdas, se bem cuidadas florescerão.

Cheiro

marcia szajnbok disse...

trilha sonora pra tua poesia:

http://www.youtube.com/watch?v=yRv34Cat3Vw

gostei muito! abço

Eleonora Marino Duarte disse...

virá amigo raul,

enquanto não nasce na lama a flor que muda o destino de um terreno infértil, seu poema faz raízes por dentro de nossas cabeças.

um verso muito importante e belo.

um abraço forte, professor!

Lucia M. Ghaendt-Möezbert disse...

A consciência social aliada à literatura produz essa singular capacidade de transformar o abjeto em arte e beleza, sem deixar de lado a crítica.

Pérola Anjos disse...

Almas pequenas se vendem e são compradas a preço de banana.

beijos!

controvento-desinventora disse...

Que texto forte. Senti-me segurando a pá e abrindo trincheiras...

Keila Costa disse...

Encantada com seus escritos e seus olhares! Obrigada pela visita!
Abraço,

Dhanapala disse...

obrigado pela visita ao Folhas no Caminho, e parabéns pelo blog!

Marcantonio disse...

Da imagem: confesso uma intensa alergia ao Beuys. Até imaginei uma série de trabalhos que chamaria "Odeio Beuys", bobagem que, felizmente, não levei adiante. Rs. Mas ele é bem melhor do que muitos xamãs que andam por aí, cheios de retórica vazia.

Gostei bastante do poema. Desconfio que, socialmente, o que há de vir será sempre um logos cultural que nunca incluirá realmente o indivíduo irredutível, sempre tragado pelo devir, mas fazendo uma barulheira danada enquanto desaparece. Som e fúria apenas.

Grande abraço.

há palavra disse...

Angélica, Márcia, Betinamiga, Lúcia, Pérola, Cláudia e Keila:
Agradeço os comentários! Demorei a responder e, nesse ínterim, acabei mudando e reescrevendo o poema - perdão, isso faz com que alguns trechos de comentários se refirama partes do poema que não estão mais nele nem aqui... Na verdade, depois de postar, fiquei instisfeito com ele, acho que a segunda parte não tem a mesma força da primeira nem dialoga como contraponto, como eu desejava... Enfim, coisas que a velocidade da internet acarreta,a gente tem essa facilidade de tornar público, imediatamente, algo que poderia ser mais trabalhado. Pensei mesmo em excluí-lo mas, sinceramente, os comentários de vocês me fizeram mudar de idéia. É aquele velho porém verdadeiro chavão: quando o que fazemos vai pro mundo, não é mais nosso, é de quem se apropria dele!
Abraços, bons caminhos a todas!

há palavra disse...

Dhanapala,
grato pela retribuição!
Abraço, bons caminhos...

há palavra disse...

Marcantonio:
Não sei se é a isto que se refere, mas acho que existe, sim, uma questão por demais autorreferencial na obra do Beuys que pode ser de difícil integração.
Mas seu comentário me fez lembrar do "Apagando De Kooning", acho que é do Robert Rauschenberg, expressando esse tipo de relação amor e ódio que pode ocorrer entre artistas...
Abraços e grato pelo comentário!

ELEONORA MARINO DUARTE disse...

raulamigo,

fez bem em nos deixar o verso!


obrigada pela generosidade. :)

Anônimo disse...

Raul

há um tempo longe, me surpreendi (muito) positivamente com o blogue.

Os textos são refletores, amigo.

Um abraço,


Marcio.