domingo, 14 de junho de 2009

noturno outra vez

R.M.; matisse n.o 2; fotografia digital; 2007

.

quanto tempo perdido

penso

e penso no que é pensar nisso
tão tarde da noite
da vida

amores irreconhecíveis
irreconhecidos

coisas assim acontecem

dizem

o tempo é sóbrio em acertos
somos traços, não flechas

então seguimos

.

[ R.M. ]


8 comentários:

Eleonora Marino Duarte disse...

raul,

a definição de sermos traços atingiu mais do que flechas.

tem bastante impacto para a interpretação a palavra posta longe do ponto.

"tão tarde da noite
da vida"

é a lâmpada acesa dentro daquela casinha que vemos de passagem na estrada de mato que vai para o interior, quando viajamos a noite. solidão. é bem a sensação que temos ao ver que alguém resiste ali. e talvez ali também se esteja pensando no quanto é inútil pensar tão tarde da noite (da vida).

imagens.

o fato de ser noturno com o destaque do "outra vez" deixa intenso o "quanto tempo perdido". são frases que levam juntas uma mesma conclusão.

"amores irreconhecíveis
irreconhecidos"

a tragédia moderna comum entre os que se relacionam nos moldes dos ritos do amor:
somos todos entranhos uns para os outros, não conhecemos e não nos conhecem. não queremos realmente conhecer e não somos realmente conhecidos.

(alguns poucos ainda resistem e querem entrar pelas portas do universo do outro mas são impedidos pelas trancas do que é "indivisivelmente" individual..)

é fatal para a existência de um sentimento tão independente química e espiritualmente que sejamos asseados, educados, privados, prevenidos e reservados uns com os outros...


"então seguimos" e o ponto final está colocado longe da última frase. ou seja, muitos noturnos virão antes de chegarmos a uma satisfação com as respostas, com o amor, com a vida.

muito bonito.

grande abraço!

Clarice Villac disse...

turning point

no turno certo
outra visão

no tempo encontrado
vai se anunciando
a claridão

harmonia vislumbrada
em flashes de percepção

ouço,
compreendo
atendo
a intuição

no turno oportuno
reinvento o momento

então seguimos

.


Clarice Villac
(em reflexo ao 'noturno outra vez' do amigo Raul Motta)
16.06.2009

Renata de Aragão Lopes disse...

Depois de dois comentários tão extensos e ricos, restou-me apenas dizer o quão bonito me soou seu poema...

Passearei, um pouco mais, pelo seu blog. Um abraço.

há palavra disse...

Betina,

teu texto é mais que comentário - é olhar: precisão sensível.

Atento aos detalhes, expande o todo para além do que ele mesmo sabia de si.

A palavra que me cabe ganha horizontes - e já não caibo mais em mim.

Preciso, o outro - meço.

À precisão do outro - agradeço.

Preciso do outro - reconheço.

Abraços,
bons caminhos pra ti.

há palavra disse...

Claramiga Clarice!

A melhor resposta a um poema é um outro poema – isso apreendi de um daqueles mestres que temos a sorte de ter como professores.

Tua reinvenção confirma.

Um poema é momento construído momento a momento: toda uma vida e agora: Kronos e Kayrós...

“Turning point”: ressoam metáforas, aberturas.

Mas teu poema [também] é oásis, colo, abraço e toque: vida que segue! “Que pode haver de maior ou menor que um toque?” [Walt Whitman]

Grato pelo toque em forma de poemamigo, amiga!

há palavra disse...

Renata,

a presença
atenta
já é um presente
e tanto.

.

Grato pela visita-passeio!

P.S.: Vou passear pelo teu blog também! Uma espiadinha só e já gostei do nome: sonoro de derreter na boca...

Renata de Aragão Lopes disse...

Vim conferir se "há palavra" nova
(risos)
e agradecer sua visita em meu blog!
Abração!

Alma Inori disse...
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