domingo, 11 de março de 2012

silêncio sem título





sinto o não dito
tão difícil
tão bonito
agora fico aqui
passada a hora
a senha no olvido

sinto o dito
lamento
o sonho por alimento
então me fale
ou não
cale se preciso
faça-me beber do silêncio
que mora dentro
de um grito





[R.M]

+

imagem
Raul Motta
Sem título; grafite sobre papel; s.d.

ludens II

quanto mais lúdico
mais lúcido
quanto mais lépido
fagueiro
mais certeiro





[r.m.]

é

não é preciso
ser preciso
para ser





[r.m.]

.

Isso apreendi sendo com a Chris,

a quem dedico este insight em forma de poema.

sábado, 10 de março de 2012

vagos





I

pago em palavras
o débito
diário
com a vida

aceito troco
curto o prazo
a perder de vista



II

não aprendi com literatos
a grande
inesquecível lição
da necessária concisão:

"Fale ao motorista somente o indispensável"

a frase seca
em singela tabuleta
segue sendo
desde sempre
então
minha meta de poeta



III

barco
é berço
fora
o mundo vaga



IV

sim
gostaria de ver passar
o filme da minha vida toda todo de uma vez mas -
segundo dizem -
é caro o ingresso







[r.m.]

+

imagem
Oswaldo Goeldi; Sem título ["Solitário"]; nanquim a pincel, s.d.

quinta-feira, 8 de março de 2012

leito

a pedra
pesa
afunda
na água

no fundo
a pedra
encerra em si
denso poema concreto
matéria e memória
tempo
história

a pedra
no fundo funda
um chão
um grão de silêncio
no mundo

a água
faz do desvio via
flui
baila leve
em vai e vem
envolve o corpo da pedra
e segue
e volta
leva
lambe
lava
pole a pele da pedra

o peso
da pedra
é lastro
a pele - polida -
alabastro

água e pedra
celebram rito ancestral
não deixam de ser -
quem duvida? -
no encontro mais profundo em cada qual
harmonioso casal






[R.M.]
para Christiane Valente

só [as] palavras




só as palavras
são flores ocultas
no jardim das delícias

só as palavras
apelam à pele do mundo
e permanecem no fundo

só as palavras
se salvam dos tratos
e contratos dos homens de palavra

só as palavras
suportam a vertigem de ser
na ponta da língua






[RM]

+

imagem
Raul Motta
"Sementes"; grafite e lápis de cor s/ papel; s.d.

sinais





sonhos secretos
estampam
out doors

sagrados corações
pendem em ganchos nas vitrines
envidraçadas dos açougues

almas vagam
encarnadas em bandos
expostas em cobertores

medos viscerais
são estatísticas em pesquisas
de opinião

o mais íntimo
o mais ínfimo dos sentimentos
não cabe entre nós





[R.M.]

+

imagem
Oswaldo Goeldi; Sem Título ["Abandono"]; xilogravura; 17,3 x 21,8 cm


quarta-feira, 7 de março de 2012

a dia





dia
a
dia
a vida
flui
e
vai
só não vê
não vive
quem
o dia
adia






[R.M.]

+

imagem
caligrafia de San-u Ayoama

sábado, 3 de março de 2012

ver[con]tigo

ver
ver a si
ver de fora
pra dentro de dentro
pra fora
é ver apenas
mas
ver-se outro
por outro
por dentro
é olhar e ver-se mais a si
não mais a si mesmo
e
subitamente
ver
ti
gi
no
sa
men
te
tanto é o que se vê
que
ver-se assim
presenteagora
diferente de si
o olho
olha e não vê:

sente






[R.M.]


crianças

a verdade
à vera




[r.m.]