quinta-feira, 15 de março de 2012

noves fora





o poema nada sabe sobre
não paira acima
não olha de fora
não tem umbigo
o poema nunca nasceu
não tem ego
id
superego
nunca teve nada a ver com isso
ou aquilo
o poema não reza -
ora -
e toda hora é agora
o poema não se debruça à janela
não para pra ver passar a banda
o poema é a banda em silêncio
o publico em silêncio atônito atento ao silêncio da banda
o poema não presta e confessa:
amei a poesia
dormi com o poeta
mas isso foi um dia depois
matei a poesia
escarrei no poeta
o poema sempre foi sem eira nem beira
o poema assume que sonha acordado
que fala sozinho
que é louco varrido
barroco e concreto
o poema não cerca o Lourenço
não leva desaforo pra casa
não foge da luta
sin perder la ternura
o poema é uma pedra no caminho do poeta
o chumbo das asas
o salto
o assalto ao trem pagador
o poema é a pipa
o azul
a linha
o cerol
o cerol na linha
a linha na linha no azul
o corte a perda
o poema é o luto
a lápide
a vida eterna
de corpo presente
o poema não serve pra nada mas -
desde sempre - foi sempre um poema
a preencher de vida
a morte da vida
na gente






[R.M.]

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imagem
Raul Motta
Sem título; monotipia xilográfica; s.d.



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 Poema republicado no blog Cronísias
Meus agradecimentos ao poeta Fred Caju

21 comentários:

Alexandra Moraes disse...

o poema é.
adorei!! muito!!

Alice disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Alice disse...

Nossa, que lindo!!! Que mais poemas floresçam em ti.

Beijos.

Marcantonio disse...

Noves fora, ainda assim, tudo no agora.

Abraço.

Elisa Zambenedetti disse...

Maravilha teu escrito, Raul!
Beijos.

Cynthia Lopes disse...

Noves fora
e o poema
vibra, vive
ressurge
de umas cinzas
que nem existiam
e se mostra do avesso
o poeta que és!
bjs

há palavra disse...

Alexandra,

que seria
do ser
dos seres
sem o
é
que só
é
do poema?

Abraços, grato pela presença e comentário!

há palavra disse...

Alice,

curto sempre seus comentários, sempre sensíveis e curtos - na medida certa!

Grato pela presença aqui no jardim...

há palavra disse...

Curto e fino, Marcantonio!

Grato pela presença, agora - que venham outras!

Abraços, bons caminhos!

há palavra disse...

Elisa,

a gente escreve para ser lido - e maravilha é receber um "maravilha" assim!

Abraços, bons caminhos...

há palavra disse...

Cynthia,

o avesso é uma bela imagem para a lida com a vida da palavra!

Abraços, bons caminhos pra ti!

Renato Couto disse...

Começei meu dia
e fiz de tua poesia,
meu café da manhã.
Teu poema (e tua pessoa)
não bate continência,
por ser(em) incontinente(s).

Fred Caju disse...

Avassalador, Raul!

há palavra disse...

Renato,

generosidade tua...

A poesia - etéreo, infinito continente - só abarca quem a abraça... E você tá dentro!

Bons caminhos!

há palavra disse...

Fred,

viva o fluxo!

Abraços, bons caminhos sempre...

Tânia Regina disse...

Noves fora...tudo!!!

há palavra disse...

Tânia,

o tudo tá no poema - contudo, esse tudo só se realiza nas leituras que promove!

Abraços,

grato pela leitura e comentário!

Fred Caju disse...

http://cronisias.blogspot.com.br/2012/03/raul-motta.html

há palavra disse...

Muito agradecido, Fred!

Já registrei a publicação aqui no há palavra, na seção "conexões" - o link:

http://hapalavra.blogspot.com.br/p/conexoes.html

Abraços e bons caminhos... poéticos!

Unknown disse...

Prezado(a) amigo(a),

gostaria de convida-lo(a) para ler a entrevista com Regina Regazzi no Haicais de Domingo, no blog http://poetasdemarte.blogspot.com

Obrigado e muita paz!

há palavra disse...

Cristiano,

acabo de retornar de Marte, feliz por conhecer o trabalho e a sensibilidade de mais uma haijin...

Parabéns pelo trabalho!