havia
sol
e luzia
azul flores cheiro
teu abraço
eu você
nada falava
tudo em luz
só
se dizia
[ R.M. ]
foto R.M. ; série "a vila"; Londrina, 2007
"Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo." Ludwig Wittgenstein
Haia O.; pintura; s/t.; 2008
.
[ * ] R.M. para pintura de Haia O.
“Eu, que pouco li Thomas Merton, copiei no entanto de algum artigo seu as seguintes palavras: ‘Quando a sociedade humana cumpre o dever na sua verdadeira função, as pessoas que a formam intensificam cada vez mais a própria liberdade individual e a integridade pessoal. E quanto mais cada indivíduo desenvolve e descobre as fontes secretas de sua própria personalidade incomunicável, mais ele pode contribuir para a vida do todo. A solidão é necessária para a sociedade como o silêncio para a linguagem, e o ar para os pulmões e a comida para o corpo. A comunidade, que procura invadir ou destruir a solidão espiritual dos indivíduos que a compõem, está condenando a si mesma à morte por asfixia espiritual.’
“E mais adiante: ‘A solidão é tão necessária, tanto para a sociedade quanto para o indivíduo que quando a sociedade falha em prover a solidão suficiente para desenvolver a vida interior das pessoas que a compõe, elas se rebelam e procuram a falsa solidão. A falsa solidão é quando um indivíduo, ao qual foi negado o direito de se tornar uma pessoa, vinga-se da sociedade transformando sua individualidade numa arma destruidora. A verdadeira solidão é encontrada na humildade, que é infinitamente rica. A falsa solidão é o refúgio do orgulho, e infinitamente pobre. A pobreza da falsa solidão vem de uma ilusão que pretende, ao enfeitar-se com coisas que nunca podem ser possuídas, distinguir o eu do indivíduo da massa de outros homens. A verdadeira solidão é sem um eu.’
‘Por isso é rica em silêncio e em caridade e em paz. Encontra em si infindáveis fontes de bem para os outros. A falsa solidão é egocêntrica. E porque nada encontra em seu centro, procura arrastar todas as coisas para ela. Mas cada coisa que ela toca infecciona-se com o seu próprio nada, e se destrói. A verdadeira solidão limpa a alma, abre-se completamente para os quatro ventos da generosidade. A falsa solidão fecha a porta para todos os homens.’
‘Ambas as solidões procuram distinguir o indivíduo da multidão. A verdadeira consegue, a falsa falha. A verdadeira solidão separa um homem de outros para que ele possa desenvolver o bem que está nele, e então cumprir seu verdadeiro destino a pôr-se a serviço de uma pessoa.’”
.
Texto extraído de: LISPECTOR, Clarice. A Descoberta do Mundo; Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1992; p.213. O título da postagem é o mesmo da crônica.
Thomas Merton [1915-1968] Monge trapista da Abadia de Gethsemani [Kentucky, USA]; escritor, poeta, ativista social e estudioso de religiões comparadas.
+ Thomas Merton http://www.reflexoes-merton.blogspot.com/
“Meu nome é Paulo Sérgio dos Santos Machado. Nasci em 27 de agosto de 1954, no Rio de Janeiro, Brasil. Moro no Méier. Gosto de samba, pagode, forró, bossa nova, praia, esporte, amor, gosto de paz, carinho, da responsabilidade, do capricho, da dignidade, gosto do respeito, gosto de viajar, da honestidade, gosto das coisas boas, da sinceridade, gosto das boas pessoas, sou católico, gosto de pensar positivo, de imaginar positivo, gosto da vida, gosto deste mundo lindo e encantador, sou uma pessoa amiga, gosto da gentileza e também gosto da bondade, gosto da felicidade e das boas relações.
Satisfação,
Tudo de bom.”
.
a mim
me basta um porto
inseguro
um ponto no escuro
um vão
em teus braços
[R.M. ]
.
Agradeço à poetamiga Betina Moraes a captura afetiva e a publicação, que muito me honra, no seu Redoma http://redoma.weebly.com/redoma-masculina.html
+ Betina Moraes http://betinamoraes.blogspot.com/
me descubro
dois
:
o que nada
sabe
o que mergulha
nada
sabe
.
no fundo
somos
nós
apenas
soma
e
sós
[ R.M. ]
.
quanto tempo perdido
penso
e penso no que é pensar nisso
tão tarde da noite
da vida
amores irreconhecíveis
irreconhecidos
coisas assim acontecem
dizem
o tempo é sóbrio em acertos
somos traços, não flechas
então seguimos
.
[ R.M. ]
![]() |
Mira Schendel; sem título, 1966; Ecoline e bastão de cera sobre papel. |
"veermer"; fotografia da série "a vila"; R.M., Londrina, 1997
"Infância"; R.M.; xilogravura, 1997
.
.
"Crianças"; Raul Motta; xilogravura, 1997
.
.
.
.
A alma - lama
nas águas de janeiro
me lavo - leve.
desenho: Mônica Sartori; "Sinuosidades" [ * ]
.
outros
.
Cadeiras de plástico:
na de madeira, solitária,
o gato.
.
Rugas que contam histórias -
quanta beleza no teu rosto,
mulher!
.
Quarto vazio:
minha companhia
lhe agrada?
.
É apenas uma mulher
mas já não vejo
floresárvores.
.
Vestida de azul
ela cruza as pernas e abre um livro.
[A beleza é uma coisa simples]
.
Nem o sol do meio-dia
desfaz a névoa
do meu coração!
.
Branca borboleta
me aponta o vermelho
em meio o verde.
.
Presente dado
a quem está ausente:
dela me lembro.
.
Uma árvore... e ninguém por perto!
Por quê não?
Infância perdida...
.
À beira do riacho
penso mergulhar em sua corrente
minha memória pesada.
.
Triste a cabeça
repleta de pensamentos:
peneira fina.
.
A luz
se acende
depois do happy end.
.
No topo da montanha,
a surpresa:
ainda falta para o céu!
.
O buda
sob a lâmpada:
duplamente iluminado.
.
noitevaranda
enquanto estrelas
mimetizam pirilampos.
.
Teu silêncio -
morno - e o mar
em torno.
.
[R.M.]
[ * ] Mônica Sartori é representada pela Galeria Anna Maria Niemeyer
http://www.annamarianiemeyer.com.br/
.
[ o tempo
em nada pousa
o tempo
pesa
ou
repousa ]
.
.
.
cata vento
cata sopro sentimento
cata vento
cata capta o momento
cata cada elemento
cata tudo quanto é vento
cata rápido cata lento
cata até pensamento
cata vento é moinho
cata vento é torvelinho
cata vento meu amorzinho
cata capta teu jeitinho
cata cata e desata
cata rio cata nuvem
cata pedra no caminho
cata dia e noite e dia
cata e gira com carinho
.
[ liú bliú! ]
normamor
norma mora
no meu coração
norma flor
flor aflora
flor de paixão
cor da flor
flor de amor
cor coração
.
palavra que lavra
perdura
meu sentir
suave
dentro de mim
à volta tua
ainda circula
.
Se somos um e dois
importa guardar o um
de cada um de nós.
Se somos um em dois
o dois em nós
é nosso bem comum.
.
Teu jardim
Teu jardim
meu amor
é lugar onde cultivo
o melhor de mim.
Teu jardim
minha cor
é mais que chão
solução
de sutil equação:
viver além de mim.
Teu jardim
minha flor
é onde me jogo
semente
querendo somente
ser teu
enfim
.
hoje é noite
é de festa junina
balão baião
paçoca quentão
queria comigo
moça londrina
balão baião
paçoca quentão
mas... ai, que frio!
ela pode vir não...
balão baião
paçoca quentão
hoje é noite
é de festa junina...
.
Moça-cor
A moça acorda
e vê e sente a cor do dia.
O dia tinge de cor a cor da moça
e ela toda furtacor
de cor se finge:
cromacamaleoa
vive em si a cor oração
na coloração do dia.
.
passarinha poeta
palavra voa
vôo lento
quietinho
quentinho
voa adentro
fazendo ninho
aqui dentro
de mim
.
de dar dó
a saudade que sinto
dó de xodó
xodó de domingo
.
[ sentidos ]
Norma e a esfinge
de tudo que olhas
teu olhar sente e indaga
tateia
e tatua
o mundo
teu olhar
adaga negra e profunda
em tudo que pousa
estranha
se entranha
mergulha fundo
cheiro
sabor
cor
tato
em tudo teu olhar é ato
em tudo se faz presente de fato
teu olhar
sabe que não se sabe nada sobre
assim a tudo que tinge e toca
rasga
corta
perfura
sin jamás perder la ternura
teu negro olhar de menina
sabe e ensina
se tudo que é também se finge
nenhum saber é sábio
só o sabor vence a esfinge.
.
o fruto
o fruto se sabe
simples lúcida verdade
o fruto é todo corpo
e carne e entranhas
o cheiro bruto a escarnecer de essências
o fruto é
(sim)
essencial
não se apraz em platônico enlace:
ao invés: abandona-se aos bocados
sobrevive no partir
e vai-se
em sacro ofício de si
submerge em sementes
na terra escura
.
tua
palavra
certa
tua
palavra
seta
tua
palavra
acerta
em cheio
o meio
de nós
.
[ 4 poeminhas pelo celular ]
nuvens são árvores
suspensas
em louca revoada
pedras são nuvens
cansadas
longe de casa
.
fim de tarde
luz indo
luzindo leve
tingindo
ares de domingo
no dia que se esvai
.
movimento
lento
respira
dentro
tempo
silêncio
em torno
denso
.
enquanto o dia
nasce
e segue
seu caminho
meu rio
leve
levado por lembranças
reflui:
guardo tua presença
.
R.M.
Países que têm o português como língua oficial: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste. Macau é uma Região Administrativa Especial chinesa.